terça-feira, 13 de setembro de 2011

Baile de Casais - Chapter III


Baile de Casais.
Chapter III

por Elizabeth Bennet.


A imagem que havia formado da senhorita Woodhouse era das mais positivas pois, ao contrário do que Emma pensava, o sr. Knightley havia enumerado para a nova amiga todas as qualidades e dotes da antiga amizade. Dessa forma, era natural que Lizzie se sentissee como alguém que já conhece outra pessoa de tanto ouvir sobre seus gostos e pensamentos. A frieza polida da senhorita da casa, todavia, foi o suficiente para aplacar a vivaz moça imaginada e aguardada naquele casarão. Claro que diante de alguns comentários de George, Lizzie já havia intuído sobre algum excesso de cuidados ou "frescuras" da parte de Emma e de seu pai... Mas jamais podia esperar ser tratada de forma não... arrogante. Se a senhorita Woodhouse estava indisposta para visitas, ou não estivesse em seus melhores humores, o casal Gardiner e Lizzie em nada tinham culpa.
Mas enfim, aquele tratamento acabou por reforçar a teoria que E. Bennet começava a criar em sua mente: posições de poder pareciam anular ou diminuir em muito as chances de espontânea sociabilidade das pessoas. Ela tomava o exemplo do senhor Darcy. Agora já não visto como um mau homem, mas ainda assim, responsabilizado por haver demonstrado introspecção tão logo se conheceram. Tamanha introspecção que lhe conferiu uma postura semelhante à arrogância e prepotência. E que também, Lizzie constatava, o impediu de demonstrar o interesse romântico nutrido em sigilo. Talvez, se ele o tivesse feito, ela poderia tê-lo desencorajado educadamente. Mas as coisas se desenrolaram do modo mais desagradável possível.... O senhor...

- ...DARCY? - exclamou, ainda mentalmente, ao percebê-lo naquela sala, junto à sua irmã Georgiana trazidos por Emma. - "Meu Deus, o que ele fazia ali?! Seria amigo da família? Oh, não, por favor, por favor, por favor..."

Enquanto Lizzie orava em seu interior, quase rogando para que um buraco aparecesse naquela sala e ela pudesse se enfiar ali, Darcy também manteve-se emudecido, enquanto Georgiana olhava para ambos com um misto discretíssimo de surpresa e curiosidade. O senhor de Pemberley havia - para aqueles que o conheciam bem, a exemplo de sua irmã - perdido boa parte da postura senhorial, não percebendo que fitava Elizabeth de modo quase contemplativo. O fato de não esperar tornar a vê-la ainda naquele ano atribuía àquele encontro o título de maior surpresa daqueles últimos meses, desde que Lizzie estivera com os tios em Pemberley. E tamanha surpresa o desconsertara, fazendo-o apertar o cabo do guarda-chuva e esquecer de deixá-lo com o criado do senhor Woodhouse. Darcy detestava ter as coisas fora de seu controle, mas ao menos naquele instante, não sentiu qualquer má sensação por ficar sem ação.

Da parte de Elizabeth, ela mudou o rumo de sua prece, agora desejando ardentemente que ninguém ali - especialmente Darcy - percebesse seu desconforto. Os músculos retesados, o coração a mil e a cabeça que começou a pesar. Sempre tinha dores de cabeça quando passava por uma emoção intensa. E agora enfrentava não só uma, mas três: vergonha, arrependimento e cólera por sentir-se quase perseguida por esses sentimentos. "Achei que já havia superado... eu... eu superei!" - pensou respirando fundo e erguendo os olhos, sem conseguir evitar que esses, temerosos, encontrassem os de Darcy (que sequer pôde supôr as emoções da moça). Emma, intrigada, contemplou a cena com discrição e certa satisfação. Havia algo ali e ela adorava descobrir segredos.

Da parte de George, não preciso comentar que em nada lhe agradou a idéia de Emma andando sozinha por aí. Principalmente se acompanhada por um cavalheiro. Sabe-se lá que tipo de cavalheiros andavam por aí. O mais certo, claro, seria reconstruir a frase e revelar ao próprio senhor Knightley que o que de fato lhe incomodava era Emma com qualquer cavalheiro de porte agradável, principalmente se esse não fosse o próprio George Knightley...


***

Já sentados à mesa, Emma e seu pai ocupavam as pontas, na condição de senhores da casa. Enquanto seus convidados distribuíam-se da seguinte forma: a Senhora Gardiner, Elizabeth e Sr. Knightley num lado; Darcy, Georgiana e o Sr. Gardiner do outro. Georgiana e o sr. Gardiner próximos ao dono da casa enquanto Darcy e a sra. Gardiner cerca de Emma.

Elizabeth, desesperada para manter-se na companhia de (e protegida por) seus tios, evitou ao máximo qualquer oportunidade de conversa com Darcy, apenas respondendo o essencial às perguntas por ele feitas. Diziam respeito ao trivial: sua família, a pescaria do Sr. Gardiner, e afins. Georgiana, durante a refeição, esforçaria-se por conversar com Elizabeth e vencer sua timidez, todavia, sempre que pensava em tentar uma frase, Emma dizia-lhe algo interessante. Lizzie deduziu que era nítido que ambas se dariam muito bem, afinal, a senhorita Woodhouse reunia em si todas as qualidades de uma moça prendada do círculo do Sr. Darcy...

- Então... o senhor vive em Pemberley? Nunca tive a oportunidade de estar pelas proximidades. Vem muito a Donwell? - indagou o sr. Knightley a Darcy, enquanto no outro lado da mesa, o senhor Woodhouse iniciava uma animada conversa paralela com o Sr. Gardiner sobre a atividade de pescaria e todos os riscos dessa.
- Às vezes. Apenas quando tenho negócios a resolver. Mas nunca tive a oportunidade de ficar tempo demasiado por aqui, quase nunca mais que uma noite.
- Mas para tudo há uma primeira vez, não é o que dizem? Nesse caso, deve-se agradecer à sua carruagem. - acrescentou Emma com um riso animador, fitando Elizabeth de soslaio.
- E à chuva... - emendou George, tentando decifrar a animação de Emma.
- Igualmente, o que não torna o ocorrido menos agradável. É sempre bom ter a oportunidade de novos conhecimentos... não é mesmo, senhorita Bennet?
- De fato. - limitou Lizzie a responder, sem esperar que Miss Woodhouse a introduzisse na conversa. Normalmente ela adora um bom diálogo, mas por hora, ainda mantinha-se reservada.
- Diga-me, sr. Darcy, sempre passa por esse condado a negócios nessa época do ano?
- Não necessariamente, usualmente resolvo meus negócios passando por... - ele pausou, olhando Lizzie discretamente, quase por reflexo -  Bourgh. No caminho da casa de minha tia. - dito isso, ele encenou um levíssimo riso a fim de disfarçar a sombra que lhe pesou os traços ao lembrar da proposta de casamento frustrada e deduzir que Elizabeth agora fazia o mesmo.
- Oh, seria ela a Lady Catherine de Bourgh? - Arriscou Emma,  dirigindo-se aos irmãos Darcy tão logo associou o sobrenome Darcy à senhora Anne Darcy, falecida irmã da famosa Lady Catherine.
- Ela mesma. - respondeu Georgiana enquanto assentia afirmativamente com a cabeça [e finalmente tinha uma fala nesses três capítulos da nossa história O.õ].
- Papai a conhece! Há alguns anos, mas nunca mais se viram. Nesse caso devo imaginar que veio por aqui negociar algo em seu nome?
- Não, no nome de um amigo. O senhor Bingley.
- Charles Bingley?
- Exato.

Elizabeth então ergueu os olhos, o mundo era realmente um lugar muito pequeno.

- Não foi ele quem quase comprou uma propriedade em Hertfordshire?
- O próprio.
- Olhe Lizzie! Não muito distante de sua casa.
- De fato. Tive a oportunidade de conhecer o senhor Bingley. Há algum tempo. Creio que por volta de pouco mais de um ano.
- Que coisa! Cada vez mais me convenço que na Inglaterra as pessoas que não se conhecem ainda, certamente um dia se conhecerão.
- Tome-lhe por exemplo, senhor Knightley! - divertiu-se a Sra. Gardiner - Três meses atrás meu marido e eu apenas ouvíamos falar, sempre muitíssimo bem, do senhor. Mas jamais eu poderia imaginar que estaríamos hoje ceando com o senhor e seus amigos, bem como convidados a passar algum tempo conhecendo esse lindo condado. - finalizou, alargando um "riso-cupido" para a sobrinha.
- E repito as palavras que disse mais cedo na carruagem: não aceito que se vão tão cedo! Minha propriedade possui um lago que, creio eu, o sr. Gardiner apreciará. E como disse à Miss Elizabeth Bennet, minha biblioteca anda há três meses parada. Além de eu lhe ter prometido mostrar alguns livros de capa azul...
A senhorita Bennet sorriu, entendendo a referência a uma das muitas conversas sobre livros que eles travaram em todo esse tempo.
- Mas... eu achei que o senhor não tinha mais esses livros em sua casa.
- Engana-se! Escrevi, bem antes de virmos, ao sr. Philliph, que estava com meus exemplares... Os livros se encontram em minha casa há exatos três dias. Mas hoje pela tarde esqueci de dizer-lhe.

Ela riu mais, deliciando-se com a boa surpresa, sem perceber a irritação da senhorita Woodhouse a não estar inclusa naquele assunto - apesar de tratar-se de algo normal, como leitura. Quanto a Darcy, esse atentava para como Lizzie conseguia ser amável, um comportamento que ele percebeu não ocorrer freqüentemente na sua presença. No decorrer do jantar a falta de cerimônias entre "George" e "Lizzie", que por alguns momentos chamavam-se nos ditos termos, somado ao fato dele parecer partilhar muitos gostos com ela, e essa corresponder ao interesse fez surgir em Fitzwilliam Darcy um lampejo de inveja, ou algo próximo disso.



CHAMADA DO CAPÍTULO SEGUINTE (escrito por Miss Woodhouse):
FIGHT & BLOOD!... Será que Georgiana terá uma fala maior que 2 palavras?

NÃO PERCA O PRÓXIMO EPISÓDIO DE "BAILE DE CASAIS"... 
Uma história de valsas, contra-danças e muitos, mas muitos pisões de pé!



14 de Setembro de 2011

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